Houve um tempo em que o homem olhava o mundo como quem abre uma janela.
A pedra, a árvore, o rosto de outra pessoa — tudo era real, anterior à ideia.
Ver, ouvir, tocar — era assim que se conhecia. Era assim que se vivia.
Mas então, algo mudou.
Um homem — René Descartes — desconfiou de tudo.
Deus, o mundo, os outros... até da própria existência.
E decidiu começar do zero: “Penso, logo existo.”
Foi nesse gesto, quase imperceptível, que a janela se fechou.
E no lugar dela, o homem passou a olhar o mundo por um espelho —
Um espelho que só refletia a si mesmo.
Desde então, a verdade deixou de ser descoberta e passou a ser inventada.
A realidade virou suspeita.
A beleza virou gosto.
O bem virou opinião.
Descartes não criou o caos — mas deu o primeiro passo.
Séculos depois, vemos o fruto desse gesto:
Crianças crescendo sem saber o que é belo.
Pessoas que duvidam de tudo, exceto de si mesmas.
Sociedades inteiras construídas sobre emoções instáveis.
Mas a boa notícia é que a realidade não desiste de nós.
Ela espera, silenciosa, como a pedra que não se ofende.
Como a árvore que não discute.
Como o céu, que não precisa de aplausos para ser azul.
A neurociência, hoje, confirma o que Aristóteles dizia há milênios:
Nós não criamos o mundo — é o mundo que nos forma.
A alma aprende pelo que vê, sente, ouve.
O real educa.
O belo molda.
O verdadeiro sustenta.
Por isso, talvez seja hora de voltar.
Não ao passado, mas à realidade.
Voltar a ver com os olhos, e não só com teorias.
Voltar a reconhecer que há algo fora de nós — e que é maior do que nós.
Voltar a ensinar nossos filhos a amar a verdade, mesmo que doa.
A buscar o bem, mesmo que exija esforço.
A contemplar o belo, mesmo que o mundo prefira o feio.
O conservadorismo começa aí.
Não como um grito — mas como um gesto de humildade.
Porque, no fim das contas, quem fecha a janela pode até se ver melhor no espelho.
Mas perde o mundo.