Parte 4 — O que seria, então, uma direita coerente e restauradora?
Depois de tantas distorções, é legítimo perguntar: é possível uma direita que não traia a si mesma? Que não se resuma a um espelho invertido da esquerda? Que resista ao apelo do autoritarismo e, ao mesmo tempo, ofereça uma visão robusta da realidade? Sim, é possível. Mas exige mais do que convicções. Exige consciência.
Essa é a Direita que falo todos os dias, a direita em que se você não molda por exemplos, você cai nas falácias ditas contra ela, e sua moral se divide.
Uma direita coerente é aquela que compreende que sua missão não é criar um mundo novo, mas preservar as condições para que o que é bom, verdadeiro e belo continue a existir. Essa tarefa não é simples. Ela não se baseia em promessas de transformação instantânea, nem na ilusão de que leis moldam almas. Pelo contrário: entende que o tempo, a cultura, a tradição e a fé são os verdadeiros fundamentos da civilização.
Essa direita rejeita o populismo fácil, mesmo quando ele fala sua linguagem. Não se curva ao desejo de agradar a multidão com frases de efeito. Prefere formar gerações do que vencer eleições. Sabe que a alma de um povo não se conquista por decreto, mas por exemplos, símbolos, educação, música, arquitetura, arte, literatura, memória. É uma direita que cultiva raízes.
É também uma direita que valoriza a liberdade com responsabilidade. Compreende que a liberdade não é a ausência de limites, mas o espaço em que o homem pode se desenvolver moralmente. Por isso, não se apressa em proibir o que discorda, nem em criminalizar o erro. Confia que uma sociedade bem formada, espiritualmente nutrida e culturalmente rica é capaz de fazer escolhas melhores do que qualquer burocrata.
Essa direita recusa o niilismo moderno, que vê o mundo como uma construção arbitrária, sem ordem, sem propósito e sem hierarquia. Reconhece que há uma ordem moral objetiva, não imposta por homens, mas enraizada na própria estrutura da realidade. Por isso, não inventa doutrinas, mas se alinha àquilo que já foi provado como digno de ser transmitido. Sua coragem não está em propor rupturas, mas em sustentar o que é eterno quando tudo ao redor se desfaz.
Ela também entende que a batalha principal não é política, mas cultural. Não disputa apenas cargos, mas sentidos. Não busca apenas mudar leis, mas tocar consciências. Por isso, sabe que precisa de escolas, famílias, igrejas, universidades, fundações, jornais, editoras e artistas que compreendam o mundo com lucidez e o expressem com beleza. A verdadeira direita não teme a cultura, ela a cultiva.
Por fim, uma direita coerente sabe perder com honra e vencer com limites. Não se deixa corromper pelo poder e nem desfigura seus princípios para agradar o sistema. Se for preciso resistir na minoria, resiste. Se for chamada a liderar, lidera com moderação. Porque sua vitória não se mede apenas por votos, mas pela capacidade de restaurar os fundamentos invisíveis que sustentam tudo o que é visível.
Essa é a direita que precisamos resgatar. Não apenas para vencer debates, mas para reconstruir o mundo real, que está morrendo de dentro para fora. Uma direita que não tema parecer antiquada, porque carrega consigo aquilo que é mais moderno que todas as modas: o permanente.
Vamos então a Parte 5…