Por Eduardo Maschietto | Bunker Life
Nenhum regime sobrevive apenas com armas ou decretos. Nenhuma ideologia conquista corações apenas com promessas econômicas. Para dominar uma sociedade por inteiro, é preciso tocar o invisível – ocupar o lugar do sagrado.
Essa sempre foi a ambição do comunismo: não apenas derrubar a Igreja, mas substituí-la. Não apenas calar Deus, mas sentar-se em seu trono.
Como advertiu Eric Voegelin, a modernidade produziu heresias políticas que se travestem de racionalidade — e o comunismo é a mais feroz entre elas: um cristianismo sem Cristo, com redenção terrestre e um paraíso construído com ossos.
I. Uma nova teologia, sem Deus
O marxismo é, essencialmente, uma cosmologia secularizada. Ele propõe:
Um começo mítico: a opressão dos trabalhadores pela elite.
Um pecado original: a propriedade privada.
Um messias coletivo: o proletariado.
Um profeta histórico: Karl Marx.
Um evangelho: O Manifesto Comunista.
Uma redenção: a revolução.
Um paraíso: a sociedade sem classes.
E uma inquisição implacável: o partido revolucionário.
Esse arcabouço se encaixa, não por acaso, nos moldes das religiões. Só que com um detalhe essencial: a transcendência é abolida.
Nada além da matéria existe. A alma não importa. A eternidade é uma farsa.
Tudo o que é santo, misterioso ou eterno… deve ser destruído.
II. O Estado como novo deus
Nos regimes comunistas, o Estado se torna absoluto. Ele define:
O que é o bem e o mal (moral estatal).
O que pode ser dito ou pensado (doutrina oficial).
O que se celebra ou se esquece (liturgia revolucionária).
Quem é puro e quem é herege (cidadão ou inimigo do povo).
Essa teologia política se concretiza em rituais de culto:
Imagens de líderes nas paredes como santos em altares.
Procissões ideológicas nos desfiles militares.
Confissões públicas de “pecados” contra o partido.
Martírios revolucionários narrados como hagiografias.
A Igreja cede lugar ao comitê central. O templo dá lugar à praça vermelha. O púlpito vira tribuna.
III. Extermínio do sagrado real
Para que essa nova religião triunfe, é preciso aniquilar o antigo sagrado. Não apenas apagá-lo, mas ridicularizá-lo, profaná-lo e reeducá-lo.
Em O Livro Negro do Comunismo, vemos:
Padres enterrados vivos.
Monges torturados como inimigos de classe.
Capelas transformadas em estábulos, tribunais ou prisões.
Ícones queimados em fogueiras públicas.
Em Cuba, quem professava a fé era excluído de universidades.
Na China, os cultos são permitidos apenas se forem subordinados ao Partido.
Na URSS, crianças eram ensinadas desde cedo que Deus era uma mentira – e que Stalin era o “pai dos povos”.
Essa tentativa de reescrever o sagrado não é um acidente de percurso, mas parte do projeto estrutural.
IV. A nova moral: sentimentalismo com violência
Substituir o sagrado exige mais do que silenciar Deus – é preciso oferecer um novo “evangelho emocional”.
Por isso, o comunismo moderno, já sem foice e martelo, se reveste de causas sentimentais, como:
A luta antirracista com viés totalitário.
A ideologia de gênero como forma de reengenharia da alma.
A cultura do aborto como sinal de “progresso”.
A igualdade absoluta como dogma inquestionável.
Tudo isso parece caridade, mas é moral artificial sem alma, construída para desintegrar os alicerces antigos e construir uma nova ordem sem Deus.
O sagrado verdadeiro é substituído por um simulacro moral, tão intolerante quanto os inquisidores que eles juram combater.
V. Quando a fé é substituída, o inferno se institucionaliza
Ao tirar Deus do centro, o mal não desaparece – apenas ganha novos nomes e funções públicas.
Como disse Dostoiévski:
“Se Deus não existe, tudo é permitido.”
E se tudo é permitido, o partido pode tudo.
A história mostra o resultado:
Gulags.
Reeducações forçadas.
Abandono da família como célula de resistência.
Criação de um homem novo – sem alma, sem vínculos, sem céu.
A nova religião do Estado comunista não perdoa, não redime, não ama. Apenas reeduca e pune.
VI. Conclusão: ou Deus reina… ou o Estado reina
A guerra do século XX — e agora do século XXI — não é entre ricos e pobres, nem entre patrões e operários.
É entre o Reino de Deus e o Império do Homem-Deus, entre o sagrado verdadeiro e o sagrado fabricado.
Quando a sociedade perde o verdadeiro altar, ela constrói ídolos com pressa.
E poucos ídolos são tão cruéis quanto o Estado que exige adoração.
📚 Leitura complementar recomendada:
O Livro Negro do Comunismo – Stéphane Courtois
A Ideologia Francesa – Olavo de Carvalho
A Nova Ordem Mundial – Plinio Corrêa de Oliveira
Ortodoxia – G.K. Chesterton
Revolução e Contra-Revolução – Plinio Corrêa de Oliveira
O Arquipélago Gulag – Soljenítsin
A Oração do Cristão Perseguido – Rod Dreher
Eric Voegelin – The New Science of Politics (especialmente o capítulo sobre Gnosticismo)
🛡️ A cruz permanece, mesmo que o templo seja destruído.
🧱 O sagrado não desaparece – ele é apenas substituído. A pergunta é: por quê? Por quem? E a que preço?
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Excelente texto, alteza